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Cidade em 15 minutos

Cidade é das pessoas e deve ser planejada para elas

Arquiteto destaca a importância de priorizar a população no planejamento urbano para garantir qualidade de vida e boa convivência social. Conceito da Cidade de 15 minutos, reforça esse conceito

11 de Junho de 2025 às 22:00
Da Redação [email protected]
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As pessoas se deslocam não apenas por causa da escola ou do comércio local, mas principalmente por conta do trabalho. As cidades precisam entender e respeitar isso (Crédito: Fábio Rogério)

Em um mundo cada vez mais urbanizado e agitado, o tempo e a qualidade de vida tornam-se, muitas vezes, aspectos cada vez mais escassos. Nesse contexto, surge uma pergunta fundamental: com que propósito e para quem devem ser planejadas as cidades? A resposta, segundo o arquiteto e urbanista Antonio Carlos Ribeiro Abibe, membro do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) — Núcleo Sorocaba, é direta: “Em primeiro lugar, o homem, a família, o cidadão. É isso que muitas vezes é esquecido nas políticas públicas. Consideram-se os meios, mas não o fim, que é a pessoa”.

Essa visão dialoga com o conceito desenvolvido pelo urbanista franco-colombiano Carlos Moreno, conhecido como a Cidade de 15 minutos. A proposta defende que todas as necessidades básicas da população — como trabalho, educação, lazer, saúde e comércio — devem estar íveis a, no máximo, 15 minutos de distância da residência, priorizando a ecologia, a proximidade, a solidariedade e a participação.

Desafios e barreiras

Para Antonio Abibe, que presidiu a Companhia de Habitação Popular de Votorantim (Cohap), a maior dificuldade da implementação da Cidade de 15 minutos está na realidade atual das cidades. “Tudo mudou: a economia, o modo de viver. A principal questão hoje é o emprego. As pessoas se deslocam não apenas por causa da escola ou do comércio local, mas principalmente por conta do trabalho”, aponta.

Conurbação

Sorocaba tem uma particularidade que precisa ser contemplada nesse pensamento da Cidade de 15 minutos. Trata-se da conurbação urbana, que refere-se à fusão de duas ou mais cidades que crescem e se interligam, formando um único núcleo urbano.

Praticamente é isso o que acontece com Votorantim e Araçoiaba da Serra, pelo menos. As cidades têm vida, governo, necessidades, estruturas, prioridade e até “pensamentos” próprios. E é assim que deve ser.

Mas, não se pode negar que a proximidade das três cidades obriga uma boa integração, afinal há muitos deslocamentos de pessoas e de veículos e isso precisa ser levado a sério dentro do contexto urbanístico e para boa convivência entre a população que nelas circulam.

O arquiteto e Urbanista Carlos Ribeiro Abibe destaca, ainda, o exemplo do centro de Sorocaba, que, no ado, reunia funções de moradia, lazer e emprego, alinhando-se ao conceito de cidade policêntrica defendido pelo urbanista Carlos Moreno. Porém, com a migração dessas atividades para outras áreas, a região central perdeu vitalidade, a oferta de empregos e serviços, podendo levar ao esvaziamento urbano e à perda de funções essenciais.

“Seriam necessárias políticas públicas que transformassem essas áreas para gerar empregos suficientes, o que não é tarefa simples. Além disso, hoje há uma inversão de prioridades: o carro vem antes do pedestre, da pessoa. Nem mesmo o transporte coletivo é priorizado ou eficiente o necessário para permitir deslocamentos rápidos entre casa e trabalho. Esse é o grande desafio para viabilizar projetos dessa natureza”, opina Abibe.

Em entrevista à revista Veja, na edição de 2 de maio deste ano, Carlos Moreno esclareceu que sua proposta, formulada em 2015, trata de uma cidade policêntrica, com múltiplos centros, valorizando o tempo e a vivência urbana em proximidade. Ele reconhece que as relações de trabalho representam um dos principais obstáculos, mas defende soluções como a criação de espaços de trabalho descentralizados. Ele afirma que muitas empresas estão se reorganizando, deixando de concentrar todos os funcionários em um único prédio e criando múltiplos espaços de trabalho próximos às residências dos colaboradores.

Urbanismo centrado nas pessoas

Com ou sem um conceito específico que oriente as políticas públicas, Abibe ressalta que o mais importante é planejar cidades voltadas para as pessoas. “Não se trata apenas de um planejamento voltado ao sistema viário, que, aliás, é caótico. Se a cidade for realmente planejada para as pessoas, a prioridade será dada a elas — não ao veículo, nem mesmo ao transporte coletivo, que também precisa ser pensado com base na experiência do cidadão”, defende.

Além do planejamento urbanístico, o arquiteto destaca a importância do planejamento arquitetônico, especialmente no que diz respeito à convivência em sociedade. Edificações adequadas, íveis, confortáveis e com bom desempenho ambiental são fundamentais para uma vida urbana mais humana e inclusiva

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