122 anos de JCS
A vida em comum e os costumes revelados pelas páginas do JCS
As notícias são uma forma de preservar a história e mostrar os avanços e os desafios

Os jornais, muito além de veículos de comunicação e de notícias, são testemunhas físicas das mudanças de uma sociedade. Desde momentos históricos até os dias mais comuns de uma cidade, tudo está registrado em suas páginas. E, ao longo destes 122 anos, o Cruzeiro do Sul acompanhou o cotidiano da Região Metropolitana de Sorocaba (RMS), composta por 27 municípios (Sorocaba, Araçoiaba da Serra, Itu, Itapetininga, Votorantim, Salto, Alambari, Alumínio, Araçariguama, Boituva, Capela do Alto, Cerquilho, Cesário Lange, Ibiúna, Iperó, Jumirim, Mairinque, Piedade, Pilar do Sul, Porto Feliz, Salto de Pirapora, São Miguel Arcanjo, São Roque, Sarapuí, Tapiraí, Tatuí, Tietê), e também do Brasil e do mundo.
Para além da diagramação, das fotografias e das cores - ou da ausência delas -, os temas abordados refletem o corpo social de cada época. Essa transformação é facilmente percebida ao se comparar as capas dos jornais ao longo das décadas. Enquanto nas edições de 1923 e 1933 a atenção da sociedade se voltava para os avanços da medicina no combate à tuberculose - uma doença infecciosa que assombrou grande parte da população mundial -, em 1983, a campanha de vacinação contra a poliomielite era o destaque.
Em contrapartida, alguns costumes permanecem. Um exemplo são as previsões do tempo. Na capa de 12 de junho de 1933 - data do 20º aniversário do Cruzeiro do Sul - as temperaturas mínimas e máximas para o dia já estampavam o impresso. Hoje, 102 anos depois, as informações meteorológicas ganharam um ícone - uma nuvem com sol - e estão disponíveis para o na página quatro.
Matérias de comportamento, como o feriado de Corpus Christi, também são recorrentes nas edições. Enquanto em 1943, 1953 e 1963 a Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo era tema de avisos, informando os serviços que fechariam na data, em 1993 o assunto ganhou uma abordagem diferente: “Igrejas ficam cheias durante Corpus Christi”, com registros nas paróquias Bom Jesus dos Aflitos, Santa Rita de Cássia e São Lucas, além da Catedral Metropolitana de Nossa Senhora da Ponte.
Segundo o único instituidor vivo da Fundação Ubaldino do Amaral (FUA), mantenedora do Cruzeiro do Sul desde 1964, e integrante da Diretoria Executiva, que também é leitor assíduo do periódico desde a infância, Laelso Rodrigues, de 93 anos, o jornal foi, por muito tempo, o único meio de informação disponível para a sociedade. Inclusive, nos primeiros anos de circulação, as notícias vindas da Europa demoravam mais de 30 dias para chegar. O JCS foi fundado em 12 de junho de 1903, pelos irmãos Joaquim Firmino de Camargo Pires e João Clímaco. Nesse mesmo ano, ele começou a circular, como um bissemal, e tinha inicialmente quatro páginas.
“Quando comecei a acompanhar o Cruzeiro do Sul, o impresso já tinha aproximadamente 20 anos. Naquele tempo, somente o jornal dava notícias. Hoje é completamente diferente: com a tecnologia e a inteligência artificial, tudo ficou mais fácil. Nas redes sociais, é possível acompanhar acontecimentos em tempo real”, aponta Laelso.
Essa evolução da sociedade também acompanhou o crescimento do Cruzeiro do Sul. Sendo o único fundador da FUA ainda vivo, o atual membro da diretoria executiva acompanhou de perto a modernização do impresso. Desde o primeiro equipamento eletrônico, ando pelas primeiras máquinas, até a primeira edição colorida, tudo foi testemunhado por Laelso. É com essa memória que ele afirma o pioneirismo do periódico ao longo desses 122 anos.
“Nós seguimos a lei da melhoria mundial. Isso sempre foi um diferencial para o jornal, porque fomos os primeiros a inovar. Desta forma, acompanhamos e evoluímos conforme a sociedade”, explica Laelso. “Acredito que, até por isso, o Cruzeiro do Sul perseverou até hoje. Em Sorocaba, por exemplo, todos os impressos acabaram - exceto o nosso.” Além das matérias, há valores na linha editorial do jornal que permanecem até hoje. Nesse sentido, Laelso recorda que, no momento em que a Fundação Ubaldino do Amaral assumiu o Cruzeiro do Sul, os membros decidiram que o periódico não divulgaria anúncios de produtos prejudiciais à saúde do sorocabano, como bebidas alcoólicas e cigarros.
Momentos Históricos
Os impressos ainda preservam, em suas páginas, relatos importantes que marcaram a sociedade à época. Um exemplo é a manchete da edição de 12 de junho de 1943: enquanto o Cruzeiro do Sul completava 40 anos, o doutor José Ferrari assumia o cargo de prefeito de Sorocaba.
Figuras públicas importantes também utilizavam o jornal para se comunicar com a população, como Eugênio Salerno. Em 12 de junho de 1923, o sorocabano anunciava suas consultas como médico-parteiro na capa do jornal. Nessas décadas, o número de propagandas era elevado. Uma característica marcante eram as fontes utilizadas: como não havia o recurso das fotografias, letras desenhadas eram usadas para chamar a atenção dos leitores.
As fotos começaram a ganhar espaço nas páginas do impresso em 1963 - há 62 anos. A princípio, eram apenas duas imagens. Com o ar do tempo, no entanto, o espaço para fotografias cresceu. Na capa de 12 de junho de 1983, o Cruzeiro do Sul noticiou uma das piores enchentes que atingiram Sorocaba. A situação da cidade foi registrada não apenas por meio de texto, mas também com imagens.
Ao olhar para essas histórias, Laelso Rodrigues enxerga mais uma beleza do jornal impresso: a capacidade de funcionar como um verdadeiro relatório da cidade. De acordo com ele, ao longo desses 122 anos, o Cruzeiro do Sul registrou muitos marcos importantes para Sorocaba.
“Com o auxílio de uma inteligência artificial, é possível criar um acervo com essas edições. Há muita história nesses 122 anos. Além de informar, o impresso também preserva memórias”, destaca o membro da diretoria executiva da FUA.
Para os s, o ato de pegar o impresso toda manhã é sagrado. É assim que Dirce da Cruz Loffer, de 79 anos, descreve sua rotina. Ela é do Cruzeiro do Sul há mais de 20 anos.
“Eu sempre gostei muito de ler notícias, sou viciada em jornal. Antes, quando não existia celular, era no impresso que a gente se informava. Mantenho esse costume até hoje”, conta a . “Lembro quando o jornal era maior, mais recheado... eu adorava.”
Dirce conta que acompanha principalmente as notícias sobre Sorocaba. Inclusive, recentemente, se informou pelo Cruzeiro do Sul sobre as fraudes relacionadas aos descontos indevidos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Do mesmo modo, ela faz questão de conferir a seção de necrologia.
“Eu já cheguei a descobrir o falecimento de um familiar pela seção de necrologia. Na ocasião, os parentes não conseguiram entrar em contato comigo, então eu soube pelo jornal do dia seguinte”, relata Dirce. “Portanto, acredito que essa seja a função mais importante do jornal: informar.”
O mesmo acontece com o médico José Carlos Menegoci, diretor da Clínica Nucleon. Todos os dias, pela manhã, ele utiliza a versão digital do Cruzeiro do Sul para se informar sobre os principais acontecimentos da cidade, além das notícias de esporte, sua editoria favorita.
“Eu gosto muito, faz parte da minha rotina. É no jornal que me informo sobre o que acontece no Brasil e no mundo, principalmente sobre política. De certa forma, vivemos um momento em que os aspectos políticos dominam”, aponta o médico. “Ao mesmo tempo, a maioria dessas notícias afeta a população e exige determinadas posturas para que as coisas, se possível, caminhem da melhor forma.”
O JCS chegou a ter mais de 68 páginas e mais de 32 mil exemplares impressos. Atualmente, com 12 páginas e edições de terça a domingo, em seu formato impresso, o Cruzeiro do Sul segue construindo sua história voltada à utilidade pública. Contudo, com o advento da internet e redes sociais (Facebook, Instagram e Youtube), o JCS marca presença, sendo atual sem abrir mão de seus princípios editoriais e desta forma colabora para o desenvolvimento de toda região, do interior de São Paulo e de todo o País.
Missão e compromisso
O compromisso do Cruzeiro do Sul perante a sociedade sorocabana é uma missão diária, diz a direção do jornal. “Neste 12 de junho, celebramos com orgulho e profunda gratidão os 122 anos do jornal Cruzeiro do Sul. Uma trajetória marcada por compromisso com a verdade, responsabilidade social e fé nos valores que sustentam nossa sociedade: Deus, a família e a liberdade de expressão”, afirma Hélio Sola Aro, presidente da Diretoria Executiva da Fundação Ubaldino do Amaral (FUA).
Hélio destaca que ao longo de mais de um século, o Cruzeiro do Sul tem sido mais do que um veículo de comunicação, tem sido um patrimônio de Sorocaba, servindo com seriedade, independência e respeito a seus leitores. Um jornal que acompanha e registra a história da cidade e da região, com os olhos voltados para o bem comum e os pés firmes em princípios conservadores e éticos.
“Neste momento especial, agradecemos aos nossos leitores, razão maior da nossa existência, aos colaboradores e profissionais, que com dedicação e competência constroem diariamente este legado, e à população em geral, que acredita e caminha conosco. Seguiremos firmes em nossa missão: informar com responsabilidade, formar opinião com equilíbrio e servir à comunidade com integridade, sempre guiados pela fé em Deus e pelo respeito aos valores da família. Que venham muitos outros anos de história, compromisso e serviço à verdade. O jornal Cruzeiro do Sul sempre atual, hoje na era digital se destacando com informação rápida, segura e confiável. Parabéns ao jornal Cruzeiro do Sul”, disse Hélio Sola Aro.
O presidente do Conselho Superior da Fundação Ubaldino do Amaral, Marco Aurélio Laham Dottore, destaca o papel do jornal Cruzeiro do Sul na participação do cotidiano das pessoas.
“Parabéns jornal Cruzeiro do Sul! São 122 anos de credibilidade e independência jornalística. 122 anos se adaptando e se modernizando, desde o linotipo até as redes sociais. 122 anos informando, promovendo a cidadania e a educação. Parabéns a todos que fazem e fizeram parte desta história”, disse Marco Aurélio
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