Editorial
Obstáculos para recuperar a aprovação popular

Nos últimos meses, as pesquisas de opinião pública têm apresentado uma tendência consistente: a rejeição ao terceiro governo do presidente Lula (PT) permanece elevada. Essa constatação levanta questões importantes sobre o cenário político brasileiro, a percepção da população e os fatores que alimentam esse sentimento de rejeição.
Primeiramente, é fundamental entender que as pesquisas de opinião refletem, muitas vezes, um retrato complexo e multifacetado do sentimento popular. A rejeição a Lula, por exemplo, não é apenas uma questão de avaliação de sua gestão, principalmente diante de medidas econômicas que não têm dado certo, de problemas pontuais de seu governo envolvendo a corrupção — como esse último que atinge os aposentados e pensionistas que foram roubados por facilitações do INSS — e também das repercussões das falas impróprias de Lula, tudo isso associada à natural desconfiança na classe política como um todo.
Em 30 de maio, a desaprovação do presidente voltou a liderar o ranking das notícias mais lidas nos principais portais e no dia seguinte repercutiu nos jornais impressos pelo fato de ter atingido a maior marca da série histórica, a partir da divulgação da nova pesquisa da AtlasIntel.
O índice de quem não aprova a gestão do petista chegou a 53,7%. No início da medição, em janeiro de 2024, quando o presidente estava há um ano no Palácio do Planalto, a porcentagem era de 45,4%.
O levantamento é o primeiro do instituto após o escândalo das fraudes nas aposentadorias do INSS, que abalou a imagem do governo. Entre março e abril, quando a pesquisa foi repetida, a desaprovação caiu 3,5 pontos porcentuais, chegando em 50,1%, primeiro período em que o índice, que estava em ascendência desde abril de 2024, recuou.
O escândalo motivou uma troca no comando do Ministério da Previdência Social, a saída do PDT da base do governo e vem sendo explorado amplamente pela oposição nas redes sociais.
Uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (MI) no Congresso investigará os desvios, e deve ser composta por integrantes da “tropa de choque” do Partido Liberal (PL).
Um dos questionamentos feitos aos entrevistados foi a opinião deles sobre quais são os maiores problemas do Brasil atualmente. “Corrupção”, resposta de 47% dos entrevistados no mês ado, saltou para 60%, liderando a lista.
Em segundo lugar, ficou “criminalidade e tráfico de drogas”, que era considerado o maior problema desde janeiro.
A pesquisa ouviu 4.399 brasileiros entre os dias 19 e 23 de maio. O nível de confiança é de 95% e a margem de erro de 1 ponto porcentual.
Os entrevistados também foram questionados qualitativamente sobre como avaliam a gestão de Lula. Os que consideram “ruim ou péssima” são 52,1%, enquanto 41,9% acham que o trabalho desempenhado pelo presidente é “ótimo ou bom” — 6% avaliaram como “regular”.
No dia seguinte à divulgação da pesquisa sobre a avaliação de Lula, o Atlas Intel divulgou o resultado de outra pesquisa que mostrou que a crise no INSS continuava repercutindo negativamente. Segundo o levantamento, 58,1% dos brasileiros acreditam que a responsabilidade pelas fraudes nos benefícios do INSS recai sobre o governo Lula.
Andrei Roman, CEO da AtlasIntel, comentou os resultados da pesquisa e suas implicações. Segundo ele, a atribuição da culpa ao governo Lula afeta significativamente a aprovação da atual istração e destacou que, apesar das tentativas do governo de direcionar a responsabilidade para gestões anteriores, a opinião pública parece não ter aceitado essa narrativa. O especialista sugere que isso pode estar relacionado ao fato de que a maior parte do dinheiro desviado ocorreu durante o atual governo.
O instituto Atlas, ou Atlas Intel, atua em países da América Latina, como México e Argentina, e nos Estados Unidos. A empresa também realiza pesquisas no Brasil. A empresa geralmente coleta os questionários das suas amostras por meio da metodologia Random Digital Recruitment (RDR), com convites aleatórios respondidos por usuários de internet durante uma navegação padrão. As amostras são calibradas, segundo a empresa, de forma a corrigir “eventual super ou sub-representação de grupos específicos”. Segundo o Atlas, procedimentos específicos de segurança impedem respostas de usuários que já participaram do estudo.
O número de entrevistados para as pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais com representatividade nacional varia de 1.600 a 6 mil pessoas. A margem de erro dos levantamentos é de 1 a 2 pontos percentuais, com um índice de confiabilidade de 95%. As pesquisas AtlasIntel são pagas por clientes institucionais, por veículos de mídia e pelo próprio instituto.