Editorial
Quem deixou o sertão sem água?

“E eu, graças a Deus, descobri uma coisa. Deus deixou o sertão sem água porque ele sabia que eu ia ser presidente da República.” A fala do presidente Lula (PT) foi proferida na quarta-feira (28), ao a ordem de serviço para a duplicação da capacidade de bombeamento de água do Eixo Norte do Projeto de Integração do São Francisco, em Salgueiro (PE). O investimento é de R$ 491,3 milhões, por meio do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
A fala, de cunho puramente eleitoreiro, contém uma série de coisas questionáveis e outros problemas mais graves que ferem a ética cristã. Lula violou o terceiro mandamento de Deus, o não usar o nome em vão, conforme orientação escrita em Êxodo 20:7. O texto diz: “Não usarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão, porque o Senhor não deixará impune quem usar o seu nome em vão”.
O terceiro dos Dez Mandamentos, que Deus deu a Moisés no Monte Sinai, proíbe o uso inadequado ou irreverente do nome de Deus e avisa que Ele não tolera a irreverência em relação ao seu nome.
A fala, portanto pode ser classificada como uma blasfêmia a Deus: “ato de insulto, difamação ou profanação de Deus, seja por palavras, ações ou pensamentos, por implicar o uso irreverente do nome de Deus, a negação de seus atributos ou a atribuição de defeitos a Ele.
Sobre a possível violação ao terceiro mandamento ou a blasfêmia, a eventual resolução disso acontecerá tão somente entre Deus e Lula. A verdade é que Deus não deixaria o nordestino sem água da forma como Lula acha que aconteceu. Há muita ação do ano nessa história.
Agora, vamos às coisas questionáveis na fala de Lula. Ele está em terceiro mandato (2023-2026). O primeiro mandato foi de 2003 a 2006 e o segundo, de 2007 a 2010. Além disso, conseguiu eleger Dilma Rousseff por duas vezes. Ela presidiu o País entre 2011 e 2014 e 2015 e 2016 (até o impeachment pelas pedaladas fiscais). Portanto foram 14 anos anteriormente (contando com os dois de Dilma) e dois anos e meio agora, no terceiro mandado, e só agora ele percebeu que o sertão nordestino tem carência de água? É muito sem noção!
Lula se esqueceu que em janeiro de 2022, o então presidente Bolsonaro inaugurou mais um trecho da obra de transposição do Rio São Francisco, também na pernambucana Salgueiro. Tratava-se do Núcleo de Controle Operacional da integração do São Francisco, responsável pelo controle do bombeamento das águas do rio para os estados do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
A instalação do núcleo entregue por Bolsonaro havia começado em 2014 e não havia sido concluída até então. O núcleo controla, entre outras coisas, as redes de tecnologia de informação, as estações de bombeamento, subestações, estruturas de controle e tomadas de água dos dois eixos do Projeto São Francisco, o norte e o leste.
À época, em Salgueiro, Bolsonaro visitou uma estação de bombeamento, que leva água para o Rio Grande do Norte e disse que “só tem noção do que foi feito aqui quem realmente enxerga uma obra dessas” e que a obra vai “mais do que economizar recursos dos impostos”, levar água para a região e substituir os carros-pipas utilizados para abastecer municípios do Nordeste.
Na mesma oportunidade, o então ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, dissera que a transposição do rio São Francisco “orgulha os brasileiros” e que “estamos permitindo que o nordestino tenha as ferramentas, os instrumentos para transformar a sua realidade” e que “nos últimos anos, algumas obras foram interrompidas e tiveram que ser retomadas para a conclusão da transposição. Fizemos as contas e verificamos que, ao longo desse período, das intervenções feitas, várias delas tiveram que ser desfeitas. Pelo menos em oito oportunidades, [tiveram que ser refeitas] barragens que estavam desmoronando, canais abandonados e ressequidos, projetos mal feitos de túneis que desabaram”, acrescentou naquele fevereiro de 2022.
Importante registrar para a história — e para a verdade dos fatos — que o projeto de transposição é a maior obra de infraestrutura hídrica da América Latina, e foi oficialmente lançado em junho de 2007 [final do primeiro mandato de Lula], após décadas de debates sobre a necessidade de levar as águas do “Velho Chico” para regiões historicamente castigadas pela escassez de água.