Buscar no Cruzeiro

Buscar

Éric Diego Barioni

Planeta água

31 de Maio de 2025 às 20:00
Cruzeiro do Sul [email protected]
.
. (Crédito: FREEPIK)

Uma vaia de 10 minutos. Esse foi o tempo que durou a manifestação das pessoas que acompanhavam o Festival MPB Shell em 1981 — eu nasceria 5 anos mais tarde, em agosto, e não vivi a catarse desses festivais. Lucinha Lins venceu o festival com a música “Purpurina”, mas “Planeta Água” de Guilherme Arantes, em segundo lugar, deixou o público do Maracanãzinho insatisfeito.

A Terra é verdadeiramente um planeta água, e isso não é um clichê, porém, tal como no mundo da música, o resultado desse festival tem se repetido por séculos, e o planeta água que conhecemos ainda não conquistou o seu merecido primeiro lugar em nossas vidas. Há meses atrás eu diria que a água é um recurso imprescindível para a vida no planeta, mas meu entendimento sobre isso mudou.

Em 7 de setembro de 2024, a cidade de Sorocaba recebeu o primeiro indígena imortalizado pela Academia Brasileira de Letras. Ailton Krenak é o sétimo ocupante da cadeira de número 5, e foi pesquisando a sua vida, assistindo a vídeos no YouTube e lendo os livros de sua autoria que aprendi lições importantes sobre a vida e nosso mundo.

Os meus estudantes sabem e já relatei a forma como encaro a vida e a existência nesse planeta em muitos textos de minha autoria. Para mim, não existe forma de vida ou de existir mais ou menos importante. Todos são igualmente relevantes, dividem esse chão, essa água e esse ar com a gente, e merecem ser integralmente respeitados. Durante a minha vida, sempre compreendi a água como recurso, mas nunca fui um bom exemplo de uso racional de água.

O planeta água para mim sempre esteve em segundo lugar, mas Ailton Krenak — e não faz muito tempo — abriu meus olhos para algo que me surpreendeu muito. A água não é um recurso. A água é uma entidade. A água é viva e divide esse planeta com a gente, assim como muitas outras formas de vida e de existir nesse planeta. E se desde cedo aprendêssemos que a água não é um recurso e sim um ser, uma entidade, e que merece ser respeitada?

Precisamos romper com o paradigma de que a humanidade é o centro de tudo e reestabelecer a nossa relação com a natureza e com tudo aquilo que existe e integra esse mundo. Afinal de contas, dividimos esse planeta com tantos seres, que tal descrição nem caberia aqui.

Muitos nem vivem mais, mas estão por aqui. O planeta água sempre foi chão para todos (as), mas a nossa relação com esse mundo nos distanciou de tudo.

Éric Diego Barioni é professor doutor na Universidade de Sorocaba (Uniso), conselheiro e presidente da Comissão de Toxicologia no Conselho Regional de Biomedicina da 1ª Região (CRBM-1).