Marcelo Augusto Paiva Pereira
O Plano Voisin de Le Corbusier

A matéria publicada por este jornal aos 2 deste mês, sobre o conflito entre os projetos do parque linear e o da avenida marginal direita, inspiraram-me a escrever o presente texto em relação ao urbanismo e ao meio ambiente natural. Abaixo seguem alguns comentários.
Le Corbusier (1887-1965) foi um dos pioneiros da arquitetura modernista, também conhecida por arquitetura racionalista, e dela se destacou tanto como arquiteto quanto urbanista. Foi contemporâneo da ascensão do automóvel, popularizado nos Estados Unidos da América por Henry Ford e promissor do meio de transporte para reduzir as distâncias e facilitar a interação entre pessoas de cidades diversas.
Em 1925 publicou a obra “Urbanismo”, na qual definiu as elementares do urbanismo (aumentar a densidade urbana, os espaços abertos e parques, os meios de deslocamento e descongestionar os centros urbanos), fundamentadas nos projetos pela ordem e linearidade.
Le Corbusier pensava na fluidez do trânsito como elementar da urbanização, na qual o automóvel era o meio de transporte do momento e do futuro, apto a encurtar as distâncias; mas, era necessário eliminar as ruas estreitas, dimensionadas para o trânsito de cavalos, carroças, charretes e outros veículos de tração animal.
Nesse contexto, naquele mesmo ano criou o projeto “Voisin”, patrocinado por Gabriel Voisin, produtor de carros e aeroplanos e irador da estética de vanguarda daquele arquiteto. O projeto pretendia demolir os edifícios existentes na área de 40 hectares à direita do rio Sena, no centro de Paris, para implantar um conjunto de dezoito edifícios em planta em cruz, separados inclusive por largas avenidas (ou rodovias).
Essas vias e aqueles edifícios seriam erguidos sobre “pilotis”, acima de uma grande planície arborizada, com parques e espaços públicos para os pedestres caminharem, sem prejuízo do transporte urbano, o qual fluiria nas vias públicas elevadas, acompanhadas de arelas arborizadas para pedestres, que se conectariam com os edifícios, em que o andar térreo deles abrigaria cafés, escritórios e lojas.
Também tinha preocupações sanitaristas, desmembradas no projeto através dos “pilotis”, que suspenderiam os edifícios e as vias públicas e deixariam livre a superfície do solo à plena arborização, ventilação, insolação e implantação de parques públicos e à salubridade aos moradores.
Conclusivamente, o Plano Voisin (1925) foi inovador na criação de projetos urbanos. A construção de edifícios e vias públicas erguidas sobre “pilotis” foi a essência desse projeto, resultante do olhar modernista de Le Corbusier, que entendeu a importância das áreas verdes ao espaço urbano sem dificultar ou diminuir o trânsito de veículos. Foi rejeitado porque pretendia a destruição parcial do centro de Paris. Nada a mais.
Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista.