Perda
Adeus, Mestrão!
Amigos, alunos e ex-companheiros de treino lamentam a morte de Christian Keller, considerado um dos maiores nomes do jiu-jítsu da região

Multicampeão no jiu-jítsu, Christian Keller faleceu no sábado (7), aos 49 anos. A causa ainda não é totalmente conhecida, mas fala-se em parada cardiorrespiratória, ocorrida após o atleta, professor e empresário dar entrada em uma unidade pública de saúde na noite de quinta-feira (5). Na ocasião, ele foi diagnosticado com a Síndrome de Guillain-Barré (SGB), condição na qual o sistema imunológico ataca os nervos periféricos.
Quem conviveu com Christian custa a acreditar em sua partida. Nas redes sociais, as manifestações de pesar ainda são numerosas. Não é por menos: o atleta e professor formou muitas pessoas por meio da arte suave. Um deles é Fábio Maldonado, o maior nome das lutas em Sorocaba. Foi com o “mestrão”, como Maldonado costumava chamá-lo, que vieram os primeiros treinos de jiu-jítsu.
Atualmente, o atleta sorocabano acumula 45 lutas no MMA (artes marciais mistas), com 28 vitórias e 17 derrotas. Apesar de ter o boxe como especialidade, muito do que sabe sobre o jogo de solo Maldonado afirma ter aprendido com Christian. “O conheci no início dos anos 2000, quando fui treinar na Academia Mônica Minelli”, recorda.
De lá para cá, a parceria só cresceu. O mestrão, por exemplo, mantinha uma academia na avenida Coronel Nogueira Padilha, na zona leste de Sorocaba, onde recebia Fábio Maldonado, outros lutadores e até mesmo pessoas que buscavam na arte suave uma forma de melhorar a saúde do corpo e da mente. “Ele não fazia nada para se aparecer”, afirma. “Era verdadeiro mesmo. Um ícone, uma perda muito grande para o esporte da região.”
Maldonado ite que não via o atleta e professor há algum tempo. No entanto, a iração, mesmo com a distância natural que a vida impõe, permanece enorme. “O Christian vai fazer muita falta”, atesta.
‘O melhor’
O vereador Roberto Freitas (PL) era aluno de Christian Keller. Ele, inclusive, esteve com o mestre na sexta-feira (6), quando estava internado na Unidade Pré-Hospitalar (UPH) da Zona Leste, aguardando transferência para o Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS). “Infelizmente, o amigo, o professor, o mestre, o melhor com quem treinei na vida, partiu”, lamenta. “Até agora estou sem acreditar. Que tragédia.”
Roberto conta que Christian começou a reclamar de dormência nas pernas na quinta-feira, dia em que foi internado. Apesar do atendimento médico, o quadro se agravou. Foi então que suspeitaram da Síndrome de Guillain-Barré. “É uma doença autoimune que precisa ser tratada rapidamente, mas mesmo assim não costuma ter alta letalidade. Por isso, a morte pegou todo mundo de surpresa”, detalha.
O vereador afirma que conversou com o mestre na sexta-feira. Ele estava lúcido, conversando bem e se alimentando — um pouco assustado com o que estava acontecendo, mas consciente. “É simplesmente inacreditável”, diz.
Quem era
Christian Keller dedicou a vida ao jiu-jítsu. Foi campeão mundial e diversas vezes campeão brasileiro. No currículo, mais de 50 títulos. Chegou a se aventurar também no mountain bike, mas seu verdadeiro talento era a luta. Formou dezenas de faixas-pretas e supervisionou projetos que beneficiaram 300 crianças em situação de vulnerabilidade social. Atualmente, mantinha uma academia de musculação e lutas na zona leste. Foi sepultado na tarde de domingo (8), no Cemitério Pax. A família optou por não realizar velório.
O que é a Síndrome de Guillain-Barré?
A síndrome de Guillain-Barré Síndrome (SGB) é uma condição rara na qual o sistema imunológico de uma pessoa ataca os nervos periféricos, os que conectam o cérebro e a medula espinhal a todas as partes do corpo. Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), a condição pode afetar os nervos que controlam o movimento muscular, resultando em fraqueza. Foi o que ocorreu com o atleta e professor de jiu-jítsu, Christian Keller. A doença é considerada rara, embora mais comum em adultos homens.
Os primeiros sintomas incluem fraqueza ou sensação de formigamento, começando geralmente nas pernas, podendo se espalhar para os braços e o rosto. Como ocorreu com o atleta, tais manifestações podem levar à paralisia das pernas, braços ou músculos do rosto. Em aproximadamente um terço das pessoas, os músculos do peito são afetados, dificultando a respiração.
Ainda conforme a OMS, a causa da síndrome não é totalmente compreendida, mas a maioria dos casos ocorre após uma infecção por vírus ou bactéria, fazendo com que o sistema imunológico ataque o próprio corpo. Não há, até o momento, a confirmação de que isso ocorreu com Christian Keller.
Tratamento e cuidados
Dada a natureza autoimune da doença, sua fase aguda é tipicamente tratada com imunoterapia. Geralmente, é mais benéfico quando iniciado de sete a 14 dias após o aparecimento dos sintomas. Por fim, a Organização Mundial da Saúde esclarece que nos casos em que a fraqueza muscular persiste após a fase aguda da doença, os pacientes podem precisar de serviços de reabilitação para fortalecer os músculos e restaurar os movimentos. (Thaís Marcolino)
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